top of page

Minha vida e aprendizados com a família maltesa!

Atualizado: 22 de ago. de 2023

Domingo, quase meio dia, sol brilhando fazendo o que faz de melhor e deixando o dia ainda mais bonito. O carro estaciona e eu fico dentro enquanto o taxista faz um telefonema para o número que lhe entreguei na tentativa de me ajudar para que meus hosts viessem me recepcionar. Olhos atentos a todo o movimento e admirando principalmente à vista em frente à casa estacionada, o mar! Meu Deus, obrigada!!! Não acredito que vou morar de frente para praia como eu queria e tanto pedi… Uhulllllll!!! A alegria e a sensação de gratidão logo me preencheram. Continuei a observar aquele mar: calmo, repleto de barcos de passeio e de travessias com seus diversos tamanhos, uma calçada larga com alguns bancos e poucos e pequenas árvores. Alguns raros quiosques também compunham a cena. Sabia de alguma maneira que ali que seria meu refúgio de muitos dias e noites.

This slideshow requires JavaScript.

Coração um pouco acelerado, leve gelo na barriga e a curiosidade de como seria a energia, o rosto e a recepção daqueles com quem eu passaria os próximos 30 dias do meu intercâmbio, além dos milhares pensamentos. Será que eu vou gostar deles? Será que são simpáticos? E a comida, será que é gostosa ou muito diferente do Brasil? Ahh, e meu quarto, será que tem janela? Adoro ver o sol pela manhã. E o banheiro, será como o do hotel apenas com aquele chuveirinho que tenho que ficar segurando com uma mão enquanto me lavo com a outra? E a água, será que é saloba como aquela do hotel que nem dava para escovar os dentes? Quem será que também vai dividir a casa comigo, será de qual país? Humm..será que terei horário para voltar pra casa como li em alguns relatos? Porque eu vou querer passear bastante e não terei hora para voltar, espero que isso não seja um problema né?! Nossa, essa praia aqui não da pra nadar, será que tem outra que dê mais perto? Aí, espero que eles sejam legais, divertidos, animados, mesmo sabendo que são idosos, né?! Sera que eu vou conseguir conversar com eles, meu listening está péssimo, aí Meu Deus!! Tomara que eu entenda, senão eu pergunto de novo, falo que não entendi, tá tudo bem! E dou um sorriso também né :).

Eiiii, calma!! Relaxa e deixa fluir, o que tiver que ser, será! Só curta e fique aberta para o melhor, algum aprendizado vai sair daí, então desencana, respira e aguarda, ok?! Assim foi a voz do meu bom senso e lado zen me resgatando daquele turbilhão de perguntas. Então, tentei silenciar minha mente e me acalmar enquanto descia do carro e pegava minha mala, quando brevemente ele chegou.

Quase um metro e setenta de altura, branco, olhos claros, lá estava ele e Alfred era seu nome. Com suas bochechas rosadas e o sorriso acolhedor estampado no rosto, logo  foi pegando a minha mala, me cumprimentando e de cara já pude sentir a energia positiva que esse homem vibrava. Ele foi logo perguntando como eu estava, como foi minha viagem, se eu cheguei bem e muito mais enquanto pegávamos o elevador.

A residência ficava no primeiro andar, então sem demora adentramos sua casa e aí eu pude conhecer ela, Ângela, sua querida mulher e uma verdadeira segunda mãe para mim durante os dias que se seguiram. Um pouco mais baixa, em torno de 1 m e 60, cabelos curtos em tons de loiro, olhos castanhos, também possuía um sorriso acolhedor e aquela energia positiva que tanto desejei! Sentamos na mesa pra que eles me explicassem assim todas as regras da casa,. Sem demora, já foram deixando uma cópia da chave da casa comigo e falando que eu poderia chegar o horário que eu quisesse, não era mais criança hahaha. Adorei e logo uma das mil perguntas anteriores já foram respondidas.

Explicaram sobre o horário do jantar, que lá seria sempre servido as 20h e deveria avisar com antecedência por meio de uma SMS. É… essa foi uma surpresa para mim! Eles não possuíam celular moderno com whatsapp, internet por exemplo, mas tudo bem, isso foi o de menos e até engraçado. Mal lembrava como mandava um sms devido as atualidades que me senti voltando no tempo já desde esse momento haha.

Logo quando finalizamos, eles foram me apresentar a casa. Fomos até a janela principal que ficava de frente para praia e pude apreciar melhor aquela bela vista que já estava observando do carro. Já fiquei impressionada, pois o país por ter sido colonizado pelos britânicos tinha mão invertida e achei aquilo bem confuso para mim haha. Ainda bem que não teria que dirigir por lá, respirei aliviada. Consegui até imaginar o desastre que seria caso fosse contrário hahah.

Então, seguimos para os demais cômodos da casa até adentrar meu quarto, aliás, o que seria meu quarto nos próximos dias. Fiquei deslumbrada com o tamanho do quarto que era composto de uma grande cama de casal, um grande guarda-roupa, penteadeira e um banheiro privativo e tudo só pra mim haha. Uau!! Para quem sempre dividiu o quarto com os irmãos, não poderia ter tido outra reação.

Ângela era muito cuidadosa. Fez questão de me passar as recomendações de cuidado de cada item que continha ali no quarto, tanto da parte que eu usaria no guarda-roupa até providenciar uma travessa de alumínio para que eu colocasse meu perfume, minhas bijus e demais, para não riscar ou manchar sua penteadeira, algo que já tinha acontecido no passado com outro estudante. O lençol da cama era todo dia arrumado e dobrado na ponta por ela. Claro que eu arrumava minha cama todos os dias quando eu saía, porém, ela tinha acesso ao quarto para poder limpar e tudo bem pra mim afinal, a casa era dela.

Ela era uma verdadeira mãe! Mesmo que eu quisesse lavar minhas roupas, por exemplo, ela não deixava. Dizia que ela colocaria na máquina e não lhe custava, então, deixei me receber esse carinho e assim, durante toda minha estadia por lá, minhas roupas foram lavadas e passadas por ela. Foi uma experiência diferente, afinal, eu já estava costumado a fazer isso no Brasil a tempos, mesmo morando com os meus pais, eu que lavava e passava as minhas roupas.

A cada jantar uma nova troca. Ângela e Alfred, faziam questão de saber todos os dias como tinha sido meu dia, que lugares conheci, quais eram meus planos para o dia seguinte e assim faziam suas recomendações ou simplesmente falavam da beleza do lugar. Era ótimo, pois assim praticava ainda mais meu inglês.Eles eram muito atenciosos. Por exemplo: um dia comentei no jantar que tinha planos de talvez conhecer a Sicília (Itália), afinal era tão perto, mas precisava ver ainda valores e a rota, pois ou ia um dia ou um final de semana, porém sem pressa, a viagem estava só começando. Então, quando cheguei em casa no dia seguinte, Alfred me esperava com folheto que continham informações de valores e horários, assim como dias possíveis para que eu pudesse conhecer a Sicília. Ele tinha um amigo em uma das agências ao lado de casa e por isso conseguiria um valor acessível. Aquele momento fiquei paralisada por tamanha pró-atividade e atitude dele, afinal, eu só tinha falado que tinha planos. Toma aprendizado!

O casal tinha hábitos que eu admirei bastante e peguei pra mim. Um deles era na hora do jantar, eles se revezavam para fazer. Um dia ele, um dia ela e assim encaixam seus compromissos. Achei este um gesto mais do que sensato, afinal são um casal, independente de que idade tenham. Porém, para mim, foi uma novidade, pois apesar de simples esses pequenos gestos não faziam parte dos meus convívios. Mais um aprendizado!

Tinha dias que Ângela ou Alfred não jantavam em casa e quando eu perguntava por eles, a resposta era a mesma e com frequência: saiu para jantar com os amigos ou amigas. Outro hábito saudável daquele casal. Aprecio a liberdade e aquele gesto me pareceu ser o combustível da relação. Ângela e Alfred se tratavam com muito respeito e admiração com outro, mesmo as vezes rolando breves elevações de voz por parte dele, logo passava. Percebi não só no meu host, mas nos malteses em geral que conheci, que apesar de receptivos se exaltam com facilidade.

Eles era bem queridos comigo e não me deixaram fazer nada na casa, nem colocar a comida na mesa até comida no prato, eram eles que me serviam sempre, mas tudo bem. A comida me surpreendeu, além de muito gostosa, eram bem temperadas e não tão diferentes assim do Brasil, para meu gosto, claro. Alfred também foi me levar de carro no primeiro dia de aula até a escola, me mostrando assim a rota que oônibus faria ou se eu quisesse ir a pé também.


Queria ter em Malta uma vida completamente diferente da que eu tinha do Brasil, por isso o sonho de morar em uma família que vivesse em frente à praia, pois queria caminhar  no calçadão todos os dias pela manhã antes da aula ou final do dia. Logo nos primeiros dias então fui fazer isso, mesmo tendo acordado quase 11h da manhã devido ao cansaço da viagem e adivinhem quem é que foi comigo mesmo debaixo daquele sol forte?? Sim, o casal sensacional. Eles fizeram questão de ir comigo, mesmo quase próximo do horário de almoço. Foram me mostrando cada pedacinho ao redor de casa, praia possível para nadar, um lindo shopping, uma nova rota para voltar para casa, local pra fazer exercícios ao ar livre, enfim tudo. Porém, a cena mais fofa deste momento para mim foi eles fazendo tudo isso isso caminhando de mãos dadas!

Eles me contaram que tinham como hábito fazer a caminhada todos os dias fosse pela manhã ou fosse a noite. Acredito que este hábito saudável deles é o que os conservavam felizes, dispostos e saudáveis para idade que tinha pois Alfred já tinha 74 anos e Ângela 69, mas para mim não aparentavam.


Mesmo com meu inglês tupiniquim foi possível fazer em manter uma comunicação suficiente para nossa convivência saudável e repleta de trocas durante todos os 30 dias. Eles me permitiu mexer na geladeira, me apresentavam para os amigos que eles recebiam em casa com frequência, se preocupavam comigo minha estadia e meu aprendizado também. Alfred além de me corrigir, também me emprestou um livro ótimo de gramática para que eu pudesse melhorar meu vocabulário, minha comunicação e eu adorei esse gesto dele.

Foram os 30 dias mais lindos e repleto de aprendizado que eu nem podia imaginar que uma hostfamily poderia me proporcionar! No dia 4 de julho de 2015, foi então o momento da minha despedida, um dos momentos mais difíceis da minha vida, e que foi impossível conter as lágrimas. Sai as pressas, pois o táxi já estava a minha espera. Deixei uma mensagem no livro que eles tinham com os dados e mensagens de todos aqueles que passaram por eles. Fechamos com com uma foto para eternizar esse belo encontro e uma brincadeira do divertido Alfred falando que meu voo tinha sido cancelado devido ao meu choro incontido hahaha.

IMG_20150704_101517082_HDR

Alfred e Ângela – minha linda hostfamily.


Espero sinceramente poder encontrá-los em breve e assim poder conversar mais e melhor. Esse querido casal me proporcionou muito aprendizado, tanto na relação de respeito e parceria entre eles, como na manutenção e o cuidado com os amigos, saúde, com o próximo e todas as relações. Seria eternamente grata!

Thais Barbieri

 
 
 

Comentários


© 2022 Sai do Ninho - Todos os direitos reservados

Orgulhosamente criado por Atalho Criativo

bottom of page